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Newsletter da Internacional Progressista | No. 1 | Décadas em que milênios acontecem

Mais um ano se inicia e, com ele, um novo ritmo ecológico.
Na primeira Newsletter da Internacional Progressista de 2025, além de outras notícias do mundo, vamos nos debruçar sobre as rápidas mudanças geológicas que estão acelerando o ritmo da história. Quer receber a nossa Newsletter diretamente no seu email? Inscreva-se através do formulário no final desta página.

Comentando sobre a dinâmica da história, Lênin observa que existem décadas em que nada acontece,  mas semanas em que décadas acontecem. Entretanto, um planeta em rápido aquecimento acelerou o ritmo da história; das enchentes de Valência aos incêndios de Los Angeles, a nova geologia do tempo histórico demanda uma renovação do famoso ditado de Lênin.

Nos últimos 11.700 anos, a complexa dinâmica climática do planeta Terra manteve-se em equilíbrio, proporcionando um ambiente estável para a vida com apenas pequenas flutuações na temperatura média. Essa era, conhecida como Holoceno, chegou ao fim. Em 2024, pela primeira vez na história registrada, as temperaturas médias globais ultrapassaram 1,5 graus (Celsius) acima dos níveis pré-industriais—antes que a queima industrial generalizada de combustíveis fósseis começasse a bombear enormes quantidades de carbono para a atmosfera.

À medida que o clima da Terra entra nesta nova fase, talvez devamos reformular a observação de Lênin: em termos geológicos, há milênios em que nada acontece e décadas em que milênios se desenrolam.

A era do Holoceno foi precedida por rápidas e dramáticas mudanças no ambiente da Terra. Ao longo de 300 anos, a última era glacial teve um fim abrupto quando as temperaturas globais subiram 2,5 graus, desencadeando um processo que viu o nível do mar subir quase 80 metros. Essas mudanças rápidas coroaram 7.000 anos anteriores de aquecimento mais lento—aproximadamente 7 graus no total—juntamente com um aumento de 40 metros no nível do mar, conforme revelado pelos dados coletados de núcleos de gelos da Antártida.

As mudanças em nosso planeta causadas pela queima de combustíveis fósseis se apresentam como tão dramáticas quanto essas—se não mais. Já aumentamos a temperatura média em 1,5 graus em apenas 125 anos, com as emissões de CO2 aumentando ano após ano. Esse aquecimento aperta ainda mais o acelerador de efeitos em cascata: o aumento do nível do mar segue como consequência de temperaturas mais altas, conforme as camadas de gelo colapsam. De acordo com as últimas pesquisas científicas, o colapso rápido e irreversível das camadas de gelo da Groenlândia e da Antártida Ocidental se torna "provável" se as temperaturas excederem consistentemente os 1,5 graus (Celsius).

A Terra já experimentou níveis de mar mais altos do que os nossos hoje. Estima-se que cerca de 125.000 anos atrás, os níveis oceânicos eram de seis a nove metros mais altos. Durante parte desse período interglacial, os níveis marinhos aumentaram em três metros por século. O fato é que uma elevação de três metros do mar hoje tem o potencial de submergir Nova York, Xangai, Osaka e Rio de Janeiro. 13 portos de superpetroleiros de alto trafego estão em "risco severo" com apenas um metro de elevação do nível do mar. O que mais deveria chocar é que a pesquisa mais recente da International Cryosphere Climate Initiative descobriu que esse um metro de elevação do nível do mar se tornou inevitável (dentro de um século) e pode ocorrer já em 2070 com o colapso das camadas de gelo.

Massivas mudanças planetárias inevitavelmente repercutem na história humana. Estamos vivendo uma era de imensa agitação: da queda de Assad ao golpe fracassado na Coreia do Sul, ao cerco de Donald Trump contra a Groenlândia, México, Panamá e Canadá antes mesmo de assumir a cadeira de presidente estadunidense.

O ritmo vertiginoso da agitação geopolítica e o medo existencial do colapso climático podem nos fazer sentir impotentes. No entanto, embora não possamos impedir a aceleração da história, podemos afirmar a nossa agência dentro dela. As coisas não vão—e não podem—permanecer as mesmas. Sem esforços vastos e coordenados para desmantelar as estruturas de dominação, opressão e acumulação que definem nosso mundo, as coisas irão piorar. Nesta era de incerteza, ações coletivas das pessoas e suas organizações importam profundamente.

Aqui encontramos nossa tarefa para 2025 como Internacional Progressista: aprofundar, fortalecer e conectar esses esforços democráticos para que, não importando como nosso planeta mude, sejamos capazes de viver nele com segurança e dignidade.

Últimas do Movimento

Mwaivu Kaluka livre

Esta semana, o diretor da Promotoria Pública do Quênia se recusou a processar as acusações forjadas contra os 3 de Mombasa, três membros importantes  do Partido Comunista Marxista do Quênia—membro da Internacional Progressista. Mwaivu Kaluka (Presidente do CPMK), Lydia Adhiambo e Walid foram libertadxs.

Comet

As inscrições estão abertas para o Comet (ou Cometa, em tradução literal), um programa de treinamento de quatro meses para jovens organizadorxs na Grã-Bretanha que queiram entender o mundo e como mudá-lo.

O programa, administrado pela Climate Vanguard, ensinará aos participantes sobre análise de sistemas, estratégia libertadora e organização eficaz com lideranças intelectuais populares.

Saiba mais e inscreva-se aqui.

A morte de Jean-Marie Le Pen

Jean-Marie Le Pen—criminoso de guerra, negador do Holocausto e fundador da Frente Nacional de extrema direita da França—faleceu na semana passada.

Ele morreu como presidente honorário da Aliança pela Paz e Liberdade, uma aliança política europeia neofascista.

Nosso projeto, a Reactionary International, vem rastreando os desenvolvimentos na extrema direita global. Junte-se ao nosso canal no Telegram para acompanhar o trabalho do consórcio de pesquisa e receber furos de reportagem.

Arte da Semana

Tyler Eash (1988, Turtle Island) é artista Maidu, de dois espíritos, com ascendência Modoc e irlandesa. Nascido e criado no território Nisenan Maidu não cedido de Táisidam (Marysville), norte da Califórnia. Os Maidu são indígenas americanos e vítimas da limpeza étnica brutal e da assimilação forçada.


Flying Geese, a edição limitada de Eash para a Internacional Progressista foi inspirada pela similaridade na geometria de barricadas de segurança empilhadas com o padrão de cesta Maidu de mesmo nome. Ao fazer colagens digitais da cerca temporária sobre fotografias de céus abertos, Eash busca transformar um objeto ocidental de controle e autoridade em um símbolo indígena de liberdade e solidariedade.


Esta edição faz parte de uma série inspirada pela solidariedade entre palestinos e os povos indígenas e das Primeiras Nações ao redor do mundo. Saiba mais clicando no link.

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Date
10.01.2025
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