Há décadas, ouvimos que somente o livre mercado garante eficiência. Neste momento, é visível que os mercados que têm o lucro como fim (profit-seeking) não são capazes de mobilizar os recursos médicos necessários para salvar vidas, proteger os já sobrecarregados serviços de saúde pública, deter o colapso econômico que deixa milhões de desabrigados e desamparados, preservar as cadeias de produção e distribuição, ou provocar mudanças no comportamento social.
Vamos então partir da premissa de que o Estado pode alcançar resultados eficientes, medidos pela necessidade da sociedade e não pelo lucro privado. A resposta nacional e internacional cubana à pandemia do SARS-CoV2 global demonstra essa possibilidade. Que uma pequena nação insular, submetida a centenas de anos de colonialismo e imperialismo e, desde a Revolução de 1959, seis décadas do criminoso embargo dos Estados Unidos, possa desempenhar um papel tão exemplar é porque o plano central direciona os recursos nacionais de acordo com uma estratégia de desenvolvimento que prioriza o bem-estar humano e a participação da comunidade, e não o lucro privado.
Simultaneamente, o punitivo e irredutível embargo estadunidense a Cuba impediu que a ilha importasse equipamentos médicos necessários, tais como ventiladores para pacientes da Covid-19, e até impediu que a ilha recebesse doações médicas. As sanções dos EUA impedem que o mundo tenha acesso aos produtos biotecnológicos cubanos que ajudaram a manter a taxa de mortalidade da Covid-19 tão baixa na ilha.
Apesar disso, milhares de especialistas médicos cubanos formaram brigadas em dezenas de países ao redor do mundo, fornecendo a tão necessária expertise para combater o coronavírus. Longe de aplaudir este maravilhoso exemplo de cooperação global Norte-Sul e Sul-Sul, a administração dos Estados Unidos puniu Cuba ao colocá-la no Tier 3 de seu relatório "Trafficking in Persons", alegando que seus programas médicos internacionais constituem "trabalho forçado" e uma forma de "tráfico humano".
Um novo projeto de lei apresentado ao Congresso dos Estados Unidos em junho de 2020, 'Cut Profits to the Cuban Regime Act of 2020', ameaça colocar vários países da CARICOM (Comunidade do Caribe, formada por 15 países e 5 territórios da região caribenha) no 'Tier 3' da Lista de Tráfico por receberem assistência médica cubana para combater a Covid-19. Tal medida restringirá o financiamento futuro a esses Estados e permitirá que o presidente dos EUA oriente os bancos de desenvolvimento sediados nos EUA e o FMI a negar-lhes empréstimos.
Enquanto os governos negam as lições óbvias da resposta global à Covid-19, cabe aos ativistas e intelectuais assegurar que as lições sejam extraídas. Estou encantada por ter a oportunidade de participar do Grupo de Trabalho Internacionalista de Resposta à Covid-19 e espero que as recomendações feitas pela Internacional Progressista sejam endossadas por um movimento global que reivindica mudanças.